Em oito
anos, mais de 1 milhão de brasileiros devem gerar sua própria energia
- 06/03/2016 13h46
- Brasília
Sabrina
Craide - Repórter da Agência Brasil
Comunidade do Rio investe em energia solar Divulgação
Você já pensou em gerar a sua
própria energia elétrica em casa? Pois essa possibilidade já existe e deve ser
cada vez mais comum no país. Segundo estimativa da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), até 2024 cerca de 1,2 milhão de residências no Brasil vão
contar com energia produzida pelo sistema de geração distribuída, que permite
que o consumidor instale pequenos geradores de fontes renováveis, como painéis
solares e microturbinas eólicas, e troque energia com a distribuidora local,
com objetivo de reduzir o valor da conta de luz.
O diretor da Aneel Tiago Correia
já instalou oito placas de geração de energia solar em sua casa, o que vai
atender ao consumo total da residência a partir do mês que vem. Para ele, além
da vantagem de usar apenas fontes renováveis, um dos benefícios da geração
distribuída é a redução de investimentos em redes de distribuição de energia.
“Ela traz a geração para próximo do consumo”, afirma.
Na última terça-feira (1º),
começaram a valer as novas regras aprovadas pela Aneel para a geração
distribuída no país, que devem aumentar a procura pelo sistema. Uma das
novidades é a possibilidade de geração compartilhada, ou seja, um grupo de
pessoas pode se unir em um consórcio ou em cooperativa, instalar uma micro ou
minigeração distribuída e utilizar a energia gerada para reduzir as faturas dos
consorciados ou cooperados.
Segundo Tiago Correia, essa
mudança vai possibilitar que mais pessoas adotem a geração compartilhada.
“Quanto maior o sistema, mais barata é a instalação total, porque alguns custos
são diluídos. Isso faz com que o retorno do investimento seja muito mais
rápido, além de facilitar o acesso ao crédito cooperativado”, acrescenta.
Também foi autorizado pela Aneel
que o consumidor gere energia em um local diferente do consumo. Por exemplo, a
energia pode ser gerada em uma casa de campo e consumida em um apartamento na
cidade, desde que as propriedades estejam na área de atendimento de uma mesma
distribuidora. A norma também permite a instalação de geração distribuída em
condomínios. Nesse caso, a energia gerada pode ser repartida entre os
condôminos em porcentagens definidas pelos próprios consumidores.
Quando a quantidade de energia
gerada em determinado mês for superior à energia consumida, o cliente fica com
créditos que podem ser utilizados para diminuir a fatura dos meses seguintes.
De acordo com as novas regras, o prazo de validade dos créditos passou de 36
para 60 meses.
Crescimento
Entre 2014 e 2016, as adesões ao
modelo de geração distribuída quadruplicaram no país, passando de 424 conexões
para 1.930 conexões. Para este ano, o crescimento pode ser de até 800%, segundo
a Aneel. “O potencial de crescimento é muito grande, e a taxa de crescimento
tem sido exponencial, até porque a base ainda é baixa”, afirma Correia. Atualmente,
cerca de 90% das instalações de geração distribuída no país correspondem a
painéis solares fotovoltaicos.
Para o presidente executivo da
Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia,
as novas regras aprovadas pela Aneel vão ajudar a fomentar o uso da geração
distribuída no país. “A revisão das normas vai possibilitar ampliação
expressiva da participação da população brasileira na geração distribuída. O
Brasil acabou de se posicionar como uma referência internacional, na vanguarda
na área de incentivo ao uso da energia de geração distribuída, em especial a
geração solar”, lembra.
Custos
O investimento em um sistema de
geração de energia distribuída ainda é alto no Brasil, por causa do custo dos
equipamentos, mas o retorno poderá ser sentido pelos consumidores entre cinco e
sete anos, segundo o diretor da Aneel. “Se você pensar como um investidor, que
tem um dinheiro disponível e gostaria de aplicar, traria um rendimento muito
melhor do que qualquer aplicação financeira disponível hoje”, diz Tiago
Correia.
Já o responsável pela área de
geração distribuída da empresa Prátil, Rafael Coelho, estima que uma residência
consiga obter o retorno do investimento a partir de quatro anos, dependendo da
radiação do local e do custo da tarifa. Para ele, o investimento vale a pena,
especialmente porque o consumidor evita oscilações na tarifa de energia.
“Quando você faz o investimento
em um sistema desses, é o equivalente a você comprar um bloco de energia
antecipado, um estoque de energia, que poderá usar por 25 anos sem se preocupar
se o valor da energia vai subir ou vai descer”, diz Coelho. Segundo ele, o
aumento da procura por equipamentos vai fazer com que o custo da instalação
tenha uma redução nos próximos anos. “Como qualquer indústria, ela precisa de
escala para poder reduzir o custo unitário. Então, com o crescimento do setor,
essa escala deve vir e consequentemente o custo para o cliente deve abaixar
também”.
Para a Absolar, o principal
gargalo para o avanço do setor de geração distribuída no país é a questão
tributária, especialmente nos 12 estados que ainda não eliminaram o Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, o ICMS sobre a energia da
microgeração. Em nível federal, o governo já fez a desoneração do PIS-Pasep e da
Cofins sobre o sistema. Em relação ao financiamento, a entidade espera que o
governo mobilize os bancos públicos para a oferta de crédito com condições
especiais para pessoas e empresas interessadas em investir em mini e
microgeração distribuída.
Edição: Graça
Adjuto
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