domingo, 13 de março de 2016

Novas energias



Aposta em energias renováveis pode elevar PIB global em 1,1% até 2030
Brasil e México estão entre os países cujo crescimento poderia ultrapassar 1%



Elevar em 36% o peso das energias renováveis aumentaria o PIB global em 1,3 trilhão de dólares (5,3 trilhões de reais) ou 1,1%, de acordo com um estudo apresentado neste sábado na 6a Assembleia da Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA). Esse montante, equivalente às economias combinadas do Chile, África do Sul e Coreia do Sul, é a primeira estimativa do impacto da transição energética, caso fosse possível duplicar a porcentagem das energias renováveis no total da matriz até 2030 em relação a 2010.



 Complexo Eólico Ventos de Santa Brígida, em Pernambuco. A. Moreira/SEI

MAIS INFORMAÇÕES
"Esta análise oferece uma prova convincente de que alcançar a transição energética necessária não só reduzirá a mudança climática, mas também vai estimular a economia, melhorar o bem-estar humano e promover seu uso no mundo", disse o diretor-geral da IRENA, Adnan Z. Amin, durante a apresentação neste sábado do relatório Benefícios da Energia Renovável: Dados Econômicos. Em sua opinião, o desafio após a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP21), realizada em Paris em dezembro passado, é "criar um ambiente de negócios atraente que incentive o investimento" do setor privado em energia renovável.

Para este fim, o estudo também analisa o impacto concreto de acordo com os países. Segundo esse tópico, o Japão, que acaba de ceder a presidência da agência para o Egito, seria o país que mais se beneficiaria com essa aposta nas energias renováveis, com um impacto de 2,3% em seu PIB. Alemanha, Austrália, Brasil, Coréia do Sul, México e África do Sul teriam um crescimento acima de 1%.

"O impacto é maior nos países que são mais ambiciosos nesse campo", destacou Rabia Ferroukhi, responsável por políticas da IRENA que coordenou o relatório. Para esta especialista, é importante que as energias renováveis sejam "interessantes do ponto de vista econômico". E também que os Governos "adotem políticas para facilitar os investimentos".

O efeito sobre o bem-estar seria três ou quatro vezes maior, segundo os autores, que mencionam uma longa lista de benefícios sociais e ambientais. A estimativa destaca que o número de postos de trabalho no setor subiria dos atuais 9,2 milhões para 24 milhões em todo o mundo até 2030. Desse total, 9 milhões estariam na indústria de biocombustíveis, 6,4 milhões no setor de energia solar, 5,5 milhões em energia eólica e o restante em outras energias renováveis.

Além disso, haveria uma mudança nos padrões de comércio, já que as importações globais de carvão caíram pela metade, assim como as de petróleo e gás, algo especialmente atraente para importadores como a União Europeia, Japão ou Índia. Segundo o estudo, no entanto, os exportadores de combustíveis fósseis, como o anfitrião, Emirados Árabes Unidos, e seus vizinhos, também se beneficiariam com a diversificação de suas economias.

"Reduzir a mudança climática através das energias renováveis é atingir outros objetivos socioeconômicos, já não é uma escolha entre um ou outro", disse Amin. "Devido às oportunidades de negócio representadas pelas renováveis, o investimento em um é o investimento em ambos", defendeu, resumindo o espírito do fórum.

Representantes de 150 países e 140 organizações internacionais se reuniram neste fim de semana, em Abu Dabi, para participar da 6ª Assembleia da IRENA, com foco no papel das energias renováveis para combater as mudanças climáticas. Esta primeira reunião intergovernamental após a cúpula de Paris pretende definir a agenda global nesse campo, e tomar medidas concretas para acelerar a transição para o uso dessas energias. A agência espera que os novos dados convençam seus membros da necessidade de "passar da negociação para a ação" na redução das emissões de CO2.

domingo, 6 de março de 2016

Energia direto do sol



Em oito anos, mais de 1 milhão de brasileiros devem gerar sua própria energia
  • 06/03/2016 13h46
  • Brasília
Sabrina Craide - Repórter da Agência Brasil



 Comunidade do Rio investe em energia solar Divulgação


Você já pensou em gerar a sua própria energia elétrica em casa? Pois essa possibilidade já existe e deve ser cada vez mais comum no país. Segundo estimativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), até 2024 cerca de 1,2 milhão de residências no Brasil vão contar com energia produzida pelo sistema de geração distribuída, que permite que o consumidor instale pequenos geradores de fontes renováveis, como painéis solares e microturbinas eólicas, e troque energia com a distribuidora local, com objetivo de reduzir o valor da conta de luz.

O diretor da Aneel Tiago Correia já instalou oito placas de geração de energia solar em sua casa, o que vai atender ao consumo total da residência a partir do mês que vem. Para ele, além da vantagem de usar apenas fontes renováveis, um dos benefícios da geração distribuída é a redução de investimentos em redes de distribuição de energia. “Ela traz a geração para próximo do consumo”, afirma.

Na última terça-feira (1º), começaram a valer as novas regras aprovadas pela Aneel para a geração distribuída no país, que devem aumentar a procura pelo sistema. Uma das novidades é a possibilidade de geração compartilhada, ou seja, um grupo de pessoas pode se unir em um consórcio ou em cooperativa, instalar uma micro ou minigeração distribuída e utilizar a energia gerada para reduzir as faturas dos consorciados ou cooperados.

Segundo Tiago Correia, essa mudança vai possibilitar que mais pessoas adotem a geração compartilhada. “Quanto maior o sistema, mais barata é a instalação total, porque alguns custos são diluídos. Isso faz com que o retorno do investimento seja muito mais rápido, além de facilitar o acesso ao crédito cooperativado”, acrescenta.
Também foi autorizado pela Aneel que o consumidor gere energia em um local diferente do consumo. Por exemplo, a energia pode ser gerada em uma casa de campo e consumida em um apartamento na cidade, desde que as propriedades estejam na área de atendimento de uma mesma distribuidora. A norma também permite a instalação de geração distribuída em condomínios. Nesse caso, a energia gerada pode ser repartida entre os condôminos em porcentagens definidas pelos próprios consumidores.

Quando a quantidade de energia gerada em determinado mês for superior à energia consumida, o cliente fica com créditos que podem ser utilizados para diminuir a fatura dos meses seguintes. De acordo com as novas regras, o prazo de validade dos créditos passou de 36 para 60 meses.

Crescimento
Entre 2014 e 2016, as adesões ao modelo de geração distribuída quadruplicaram no país, passando de 424 conexões para 1.930 conexões. Para este ano, o crescimento pode ser de até 800%, segundo a Aneel. “O potencial de crescimento é muito grande, e a taxa de crescimento tem sido exponencial, até porque a base ainda é baixa”, afirma Correia. Atualmente, cerca de 90% das instalações de geração distribuída no país correspondem a painéis solares fotovoltaicos.

Para o presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, as novas regras aprovadas pela Aneel vão ajudar a fomentar o uso da geração distribuída no país. “A revisão das normas vai possibilitar ampliação expressiva da participação da população brasileira na geração distribuída. O Brasil acabou de se posicionar como uma referência internacional, na vanguarda na área de incentivo ao uso da energia de geração distribuída, em especial a geração solar”, lembra.

Custos
O investimento em um sistema de geração de energia distribuída ainda é alto no Brasil, por causa do custo dos equipamentos, mas o retorno poderá ser sentido pelos consumidores entre cinco e sete anos, segundo o diretor da Aneel. “Se você pensar como um investidor, que tem um dinheiro disponível e gostaria de aplicar, traria um rendimento muito melhor do que qualquer aplicação financeira disponível hoje”, diz Tiago Correia.

Já o responsável pela área de geração distribuída da empresa Prátil, Rafael Coelho, estima que uma residência consiga obter o retorno do investimento a partir de quatro anos, dependendo da radiação do local e do custo da tarifa. Para ele, o investimento vale a pena, especialmente porque o consumidor evita oscilações na tarifa de energia.
“Quando você faz o investimento em um sistema desses, é o equivalente a você comprar um bloco de energia antecipado, um estoque de energia, que poderá usar por 25 anos sem se preocupar se o valor da energia vai subir ou vai descer”, diz Coelho. Segundo ele, o aumento da procura por equipamentos vai fazer com que o custo da instalação tenha uma redução nos próximos anos. “Como qualquer indústria, ela precisa de escala para poder reduzir o custo unitário. Então, com o crescimento do setor, essa escala deve vir e consequentemente o custo para o cliente deve abaixar também”.

Para a Absolar, o principal gargalo para o avanço do setor de geração distribuída no país é a questão tributária, especialmente nos 12 estados que ainda não eliminaram o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, o ICMS sobre a energia da microgeração. Em nível federal, o governo já fez a desoneração do PIS-Pasep e da Cofins sobre o sistema. Em relação ao financiamento, a entidade espera que o governo mobilize os bancos públicos para a oferta de crédito com condições especiais para pessoas e empresas interessadas em investir em mini e microgeração distribuída.
Edição: Graça Adjuto