terça-feira, 28 de julho de 2020

Contas externas têm saldo positivo de US$ 2,2 bilhões em junho

Foi o terceiro mês seguido de superávit

dólares


As contas externas registraram saldo positivo em junho, informou hoje (28) o Banco Central (BC). O superávit em transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços e transferências de renda do Brasil com outros países, chegou a US$ 2,235 bilhões. Esse foi o terceiro mês seguido de superávit e, de acordo com dados revisados, é o maior saldo positivo para junho da série histórica do BC, iniciada em 1995.https://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.png?id=1312414&o=nodehttps://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.gif?id=1312414&o=node

Em junho de 2019, foi registrado déficit em transações correntes de US$ 2,659 bilhões. “Essa mudança decorreu, principalmente, da redução de US$ 2,2 bilhões no déficit em serviços e do aumento de US$ 2,2 bilhões no superávit comercial”, disse o BC, em relatório.

No primeiro semestre, as transações correntes tiveram déficit de US$ 9,734 bilhões, recuo de 53,6% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando o saldo negativo chegou a US$ 20,998 bilhões.

Em 12 meses encerrados em junho, o déficit chegou a US$ 38,2 bilhões (2,35% do Produto Interno Bruto – PIB, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país), ante US$ 43,1 bilhões (2,58% do PIB) até o mês anterior.


Balança comercial

Em junho, as exportações de bens totalizaram US$ 17,997 bilhões e as importações, US$ 11,099 bilhões, resultando no superávit comercial de US$ 6,898 bilhões, contra US$ 4,714 bilhões no mesmo mês do ano passado. De janeiro a junho, o superávit comercial chegou a US$ 19,327 bilhões, ante US$ 22,412 bilhões do mesmo período de 2019.


Serviços

O déficit na conta de serviços (viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos, entre outros) atingiu US$ 1,371 bilhão em junho, ante US$ 3,550 bilhões em igual período de 2019. No primeiro semestre, o saldo negativo chegou a US$ 11,187 bilhões, resultado menor que o registrado de janeiro a junho de 2019, de US$ 17,653 bilhões.

“A pandemia de covid-19 permanece afetando a conta de viagens internacionais, na qual se observou diminuição interanual de 93,7% nas despesas líquidas [receitas de estrangeiros no Brasil menos gastos de brasileiros no exterior] para US$ 72 milhões em junho de 2020, em comparação a US$ 1,2 bilhão no mesmo mês do ano anterior. Ainda na comparação interanual, ocorreram recuos de 55,3% e de 84,3% nas receitas e despesas de viagens, respectivamente”, informou o BC.

O banco destacou “reduções de 28,7% nas despesas líquidas de aluguel de equipamentos, para US$ 941 milhões, e de 83,4% nas despesas líquidas de transporte, para US$90 milhões”, que também fazem parte da conta de serviços.


Viagens internacionais

Em julho, até o último dia 23, a conta de viagens gerou receitas de US$ 93 milhões e despesas de US$ 181 milhões, resultando no déficit de US$ 88 milhões. A conta de viagens internacionais tem sido afetada pelas restrições de entrada e saída dos países e pelas medidas de isolamento social, necessárias para o enfrentamento da pandemia de covid-19.


Rendas

Em junho de 2020, o déficit em renda primária (lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários) chegou a US$ 3,452 bilhões, contra US$ 3,876 bilhões no mesmo período de 2019. De janeiro a junho, o saldo negativo ficou em US$ 18,608 bilhões, ante US$ 26,420 bilhões em igual período do ano passado.

A conta de renda secundária (gerada em uma economia e distribuída para outra, como doações e remessas de dólares, sem contrapartida de serviços ou bens) teve resultado positivo de US$ 160 milhões, contra US$ 52 milhões em junho de 2019. Nos seis meses do ano, o resultado positivo chegou a US$ 734 milhões, ante US$ 662 milhões em igual período de 2019.


Investimentos

Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 4,754 bilhões no mês passado, ante US$ 574 milhões em junho de 2019.

No primeiro semestre, o IDP chegou a US$ 25,349 bilhões, ante US$ 32,233 bilhões nos cinco meses de 2019. Nos 12 meses encerrados em junho de 2020, o IDP totalizou US$ 71,7 bilhões, correspondendo a 4,41% do PIB, em comparação a US$ 67,5 bilhões (4,05% do PIB) no mês anterior.

Em junho, após quatro meses de saídas líquidas, os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram ingressos líquidos (descontadas as saídas) de US$ 2,380 bilhões, dos quais US$ 1,948 bilhão em títulos de dívida e US$ 432 milhões em ações e fundos de investimento. Nos seis primeiros meses de 2020, houve saídas líquidas de US$ 31,252 bilhões, de ingressos líquidos de US$ 9,087 bilhões, em período similar do ano anterior. Nos 12 meses até junho, a saída líquida de investimento em carteira no mercado doméstico somou US$ 47,9 bilhões.

 

Análise: As letras miúdas do pacote de recuperação da UE

Dirigentes da União Europeia fecharam um acordo sobre o apoio às economias nacionais na fase pós-pandemia. Mas distribuir € 750 bilhões em subvenções e empréstimos não será fácil, e custos futuros prometem ser altos.

Belgien Abschluss EU-Gipfel (Reuters/S. Lecocq)
Líderes da União Europeia chegaram a um acordo sobre o pacote durante a madrugada

A conferência de cúpula para deliberar sobre o fundo de recuperação pós-pandemia de covid-19 foi a mais longo da União Europeia em quase 20 anos. Assim, o tuíte do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, com apenas a palavra "Acordo!" às 5h31 da manhã desta terça-feira (21/07) foi recebido tanto com alívio quanto curiosidade sobre o que, exatamente, dera fim ao prolongado impasse.

Quem se recorde da constante série de cúpulas da UE "agora ou nunca" durante a crise da zona do euro, de 2009 a 2012, talvez menospreze a ideia de qualquer coisa "histórica" ser fechada numa dessas reuniões. Contudo o atual acordo tem significado histórico genuíno: pela primeira vez a UE se comprometeu a uma espécie de união de débitos.

Mas primeiro a parte padrão: o bloco aprovou seu mais recente orçamento de sete anos (oficialmente "quadro financeiro plurianual"), no montante de 1,074 trilhão de euros. A parte histórica é o fundo de recuperação pós-pandemia, no valor de 750 bilhões de euros, dos quais 390 bilhões de euros concedidos aos países-membros na forma de subvenções, e 360 bilhões de euros em créditos.

França, Alemanha e a Comissão Europeia queriam que as subvenções totalizassem 500 bilhões de euros. Porém, mesmo com essa redução, é a primeira vez que a UE fornece ajuda subvencionada em tamanha escala, que, acima de tudo, será tomada coletivamente como empréstimo nos mercados financeiros.

Para reunir os 750 bilhões de euros totais do fundo denominado oficialmente Next Generation EU, a Comissão Europeia tomará emprestada toda essa quantia, emitindo títulos de dívida com prazo três a 30 anos. O plano é que o reembolso dessa quantia comece em 2027, encerrando-se até 2058.

Dos 390 bilhões de euros, cerca de 77,5 bilhões de euros serão adicionados a programas orçamentários do bloco que oferecem ajuda em forma de subvenções. Os 312,5 bilhões de euros restantes se destinarão ao Mecanismo de Recuperação e Resiliência da UE, do qual os Estados-membros acessarão suas parcelas entre 2021 e 2023.


Condições, financiamento e cargas futuras

Esse mecanismo é a parte mais importante de todo o acordo. Para acessar suas parcelas, que não terão que ser devolvidas, os países devem preparar planos de recuperação nacional, contendo determinados compromissos. Uma declaração divulgada pelo Conselho Europeu após a reunião dá uma ideia do que serão essas condições.

"Em conformidade com os princípios de boa governança, os Estados-membros prepararão planos nacionais de recuperação e resiliência para 2021-2023. Estes deverão ser consistentes com as recomendações específicas para cada país e contribuir para as transições verde e digital. Mais especificamente, requer-se que os planos incrementem crescimento e empregos, e reforcem a 'resiliência econômica e social' dos países da UE."

Um dos tópicos mais debatidos em Bruxelas foi a forma de alocação dos fundos. Os planos originais teriam incluído critérios anteriores à crise do coronavírus, mas as atuais exigências estão estritamente subordinadas aos danos causados pela pandemia. Assim, Itália, Espanha e outros receberão grandes quantias, mas em teoria todos os membros se beneficiarão em certa medida.

Haverá também mecanismos de governança permitindo que os Estados-membros objetem, se considerarem que outros não estão cumprindo suas promessas de reformas. Eles podem bloquear as transferências financeiras de Bruxelas por até três meses, mas a palavra final cabe à Comissão Europeia.

Outro assunto polêmico foi como o bloco financiará os empréstimos das verbas nos mercados financeiros. Do total, 360 bilhões de euros serão restituídos individualmente pelos Estados, segundo os créditos que assumam, enquanto a UE pagará coletivamente os demais 390 bilhões de euros. Para alcançar-se um consenso, contudo, foram feitas concessões e cortes nas propostas iniciais.













O plano de subvenções original de 500 bilhões de euros incluía propostas para investimentos coletivos da UE em áreas como saúde, migração e outros programas. Isso, no entanto, foi em grande parte radicalmente reduzido, a fim de assegurar que a principal parte do pacote se destinasse a financiar a recuperação econômica individual dos países após a pandemia.

Considerou-se impor uma série de taxações, destinadas aos cofres coletivos da UE para compensar os empréstimos, mas só houve consenso sobre um imposto sobre o lixo plástico, e outros poderão ser estudados futuramente. Como o fundo foi negociado paralelamente ao orçamento de sete anos, as assim chamadas "nações frugais" (Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia) e a Alemanha obtiveram descontos em suas contribuições anuais para o orçamento da UE.

No total, embora seja potencialmente um tônico vital para as economias europeias num momento de grandes vicissitudes, tudo indica que no futuro o pacote pós-pandemia também venha a representar uma pesada carga para os orçamentos nacionais.