É
estarrecedor que um vice-presidente conspire contra a presidente abertamente',
diz Dilma Rousseff; veja vídeo
Portal Vermelho | São Paulo - 18/04/2016 - 19h59
'Nenhum governo será legitimo sem ser por obra do voto secreto e direto,
numa eleição convocada para este fim. Não se pode chamar de impeachment uma
tentativa de eleição indireta', disse a presidente em entrevista coletiva
Indignada e injustiçada, mas com
disposição de luta. Assim a presidente Dilma Rousseff descreveu como se sente,
no dia seguinte à Câmara aprovar a admissibilidade do processo de impeachment.
No primeiro pronunciamento desde a decisão, ela reiterou que não há crime de
responsabilidade e fez duras críticas ao vice-presidente Michel Temer (PMDB), a
quem acusa de “conspirar” contra seu mandato. De acordo com a mandatária, “a
sociedade não gosta de traidores”.
“É estarrecedor que um
vice-presidente, no exercício do mandato, conspire contra a presidente
abertamente. Em nenhuma democracia do mundo, uma pessoa que fizesse isso seria
respeitada”, condenou.
Roberto
Stuckert Filho/PR
Durante
declaração à imprensa, Dilma ressaltou que não vai renunciar nem encurtar
mandato com convocação de eleições gerais
Dilma reforçou que um eventual
governo originado deste processo de impeachment, sem base jurídica, não terá
legitimidade. “Nenhum governo será legitimo, será um governo em que o povo
possa se reconhecer nele, sem ser por obra do voto secreto e direto, numa
eleição convocada para este fim. Não se pode chamar de impeachment uma
tentativa de eleição indireta”, disse.
Injustiças
A presidenta afirmou que assistiu
a todas as intervenções dos parlamentares durante a votação e não viu
“discussão sobre o crime de responsabilidade, que é a única maneira de se
julgar um presidente no Brasil”.
Dilma disse que se sentia
injustiçada por vários motivos. "Considero que esse processo não tem base
de sustentação", discursou, acrescentando que iria "insistir numa
tecla só", ao defender a legalidade da edição de decretos de suplementação
orçamentária, porque se trata da “tecla da democracia”.
"Os atos pelos quais eles me
acusam foram praticados por outros presidentes antes de mim e não se
caracterizaram como ilegais ou criminosos", disse, ressaltando que as
decisões foram tomadas com base em relatórios técnicos e que não beneficiaram
ela diretamente. "A mim se reserva um tratamento que não se reservou a
ninguém".
De acordo com Dilma, "essa
situação só pode provocar uma imensa sensação de injustiça”, porque é uma
“violência contra o Brasil, a verdade e o Estado democrático de direito".
A presidente lamentou ainda os
sucessivos ataques sofridos ao longo dos últimos meses, que têm atrapalhado seu
governo. “Também me sinto injustiçada por outro motivo. Por não permitirem que
eu tivesse, nos últimos 15 meses, governado em um clima de estabilidade
política. Contra mim, praticaram, sistematicamente, a tática do quanto pior,
melhor. É assim: pior para o governo, melhor para a oposição.”
Cunha
Sem citar o nome do presidente da
Câmara, Dilma voltou a contrapor sua biografia à de Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
réu no Supremo Tribunal Federal e condutor do impeachment na Câmara. Ela
reiterou que o peemedebista aceitou o pedido de impeachment por “vingança”,
pelo fato de o seu partido e o governo terem negado apoio e ele no processo no
Conselho de Ética.
Lula
Marques/ Agência PT
"De
certa forma, eu estou tendo meus sonhos torturados, meu direito torturado. Mas
não vão matar em mim a esperança", afirmou
“Não há contra mim acusação de corrupção. Não fui
acusada de ter contas no Exterior. Por isso, eu me sinto injustiçada. Aqueles
que praticaram atos ilícitos e têm contas no Exterior, presidem a sessão sobre
uma questão tão grave como o impedimento de um presidente da República”,
disparou.
Força, esperança e coragem
Dilma voltou a defender que o
processo aprovado contra ela na Câmara é um golpe contra a democracia e que,
assim como fez na juventude, quando lutou contra a ditadura e chegou a ser
torturada, não irá desistir. “Enfrentei a ditadura por convicção e hoje faço o
mesmo. Um golpe de estado que não é igual ao da minha juventude, mas
infelizmente é o golpe da minha maturidade, em que se usa de uma aparência de
processo legal”, disse.
A presidenta afirmou que “vivemos
tempos difíceis” e que o “mundo e a história nos observam”. Mas destacou:
“Tenho ânimo, força e coragem suficiente para enfrentar essa injustiça”,
declarou.
Emocionada, disse que todo esse
processo lhe entristece, mas não lhe abate. “De certa forma, eu estou tendo
meus sonhos torturados, meu direito torturado. Mas não vão matar em mim a
esperança. Sei que a democracia é o lado certo”, revelou.
Sobre essa nova fase, que se
inicia com a chegada do processo ao Senado, Dilma deixou claro que vai se
defender e que a luta só começou. “Nós estamos no início da luta. Essa luta
será muito longa e demorada. Não é por mim e pelos 54 milhões de votos que
recebi. É uma luta de todos os brasileiros e uma luta pela democracia”,
afirmou.
A petista disse que não avalia a
possibilidade de apresentar ao Congresso Nacional um projeto para antecipar a
eleição presidencial. E disse que não abrirá mão dos instrumentos existentes
para defender a democracia. "Não é judicializar processos, mas exercer em
todas as dimensões o direito de defesa".
Ministros
Questionada por jornalistas,
Dilma disse esperar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa assumir
o posto de ministro da Casa Civil ainda nesta semana, quando o Supremo pode se
pronunciar a respeito. “Lula, de fato, tem me ajudado muito. Esperamos que,
nesta semana, seja autorizada a vinda dele para a Casa Civil. Certamente ele
virá.”
A presidente declarou que não
deve modificar ministérios ou movimentar cargos. A não ser as pastas ocupadas
por aqueles que votaram a favor do governo, caso de Mauro Lopes (PMDB-MG), que
era Secretário da Aviação Civil. "Estes não podem permanecer no governo
por uma simples questão de consequência de seus próprios atos", diz.
"Estranho seria o contrário".
Dilma disse ainda que, passada
mais esta etapa do embate político, será necessário um "rearranjo no
governo" e a construção de "um novo caminho". "Eu enfrentei
um terceiro turno e agora vou para o quarto turno. Depois do quarto turno,
teremos de ter um novo rearranjo do governo", disse, defendendo que o
Congresso não fique "parado" e encaminhe as propostas enviadas pelo
Executivo e que tramitam na Casa.
Texto
publicado originalmente pelo Portal Vermelho