Economia
global deve crescer 2,5% em 2015, prevê Unctad.
- 06/10/2015 14h51
- Rio de Janeiro
Nielmar
de Oliveira - Repórter da Agência Brasil
Relatório divulgado hoje (6) pela Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) afirma que a economia
mundial deve crescer 2,5% em 2015. As Nações Unidas ressaltam que a taxa “é
significativamente inferior à média de 4% dos anos pré-crise” e reflete
“uma ligeira aceleração nas economias desenvolvidas, uma desaceleração moderada
nas economias em desenvolvimento e um declínio mais acentuado nas economias em
transição”.
No caso dos países desenvolvidos, a previsão é de
crescimento de 1,9% este ano (ante 1,6% em 2014), puxada pela demanda doméstica
mais forte. O consumo das famílias será impulsionado pela energia mais
barata e preços mais altos dos imóveis residenciais. A manutenção das
políticas monetárias com taxas de juros baixas em todas as regiões desenvolvidas
e programas de expansão monetária lançados na zona do euro e no Japão
influenciam a taxa de crescimento desse países.
“Mesmo assim, a inflação deve se manter abaixo das
taxas almejadas na maioria dos países desenvolvidos, em parte porque o crédito
bancário estagnou e os salários permanecem em níveis moderados”, diz o
documento, apresentado no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES).
Na avaliação das Nações Unidas, porém, nenhum
desses fatores parece capaz de alavancar crescimento robusto. Para o
secretário-geral da entidade, Mukhisa Kituyi, oito anos após a crise financeira,
o mundo ainda não descobriu como mudar a marcha “para alcançar o desenvolvimento
econômico global, inclusivo e sustentável”.
Para Unctad, os países ricos precisam
aumentar a despesa pública, salários e a demanda por bens e serviços para
evitar a desaceleração da economia global. A entidade alerta que “há pouca
percepção de que as grandes forças em jogo, vêm restringindo a demanda dos
consumidores e afetando o investimento privado", decorrência do declínio
dos salários (cerca de 10 pontos percentuais, em média, desde 1980) e da
crescente desigualdade na distribuição da renda.
De acordo com o órgão, o investimento público é
instrumento fundamental para enfrentar a estagnação nos países desenvolvidos,
uma vez que “os aumentos nas despesas públicas (como em infraestrutura) têm
efeitos multiplicadores positivos nas economias em estagnação”. Segundo a
Unctad, salários mais elevados reduzem a pressão financeira sobre os regimes
previdenciários e permitem que as famílias aumentem os gastos com consumo sem
elevar as dívidas. “Há evidências de aumento nos níveis de atividade e de
emprego, o que, por sua vez, fomenta o aumento da produtividade, criando um
círculo virtuoso de expansão da demanda e da oferta”, diz o relatório.
Endividamento
O relatório também constata que a queda dos
preços das commodities, o aumento das taxas de juros, as depreciações
cambiais e a lentidão do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global têm
dificultado a capacidade de pagamento dos países desenvolvidos. De acordo
com a Unctad, os empréstimos do setor público nas economias avançadas
lideram o processo de endividamento. No entanto, as dívidas dos países em
desenvolvimento – tanto pública como privada – também estão crescendo, “até
porque, depois de 2008, as economias em desenvolvimento e em transição
tornaram-se o destino mais atraente para os capitais privados em busca de
retornos financeiros positivos”.
O relatório destaca que a dívida corporativa
externa nos mercados emergentes triplicou, desde 2008, para mais de US$ 2,6
trilhões. “O fácil acesso ao crédito por parte das empresas privadas desses
países, ao lado do acompanhamento ineficaz, por parte dos credores, pode se
transformar rapidamente num problema bastante sério, caso haja uma mudança de
sentimento dos investidores em relação a esses mercados”, alerta.
Financiamento
No relatório, a Unctad defende ação governamental
para que os países em desenvolvimento tenham mehores condições de acessar
financiamentos internacionais de longo prazo. “Esta tarefa não pode
ser confiada exclusivamente aos mercados financeiros. Em vez disso,
instituições e mecanismos públicos especializados, projetados especificamente
para esta finalidade, serão cruciais”, diz o documento.
Saiba Mais
O secretário-geral do órgão, Mukisha Kituyi, lembra
que "os mais bem-sucedidos períodos de investimentos massivos (big pushes)
conseguiram combinar com eficiência, de uma forma ou de outra, iniciativas
públicas e privadas. Assim, em um sentido muito básico, o financiamento do desenvolvimento
é sempre misto. As grandes questões são: quem está fazendo a combinação, como e
com que fim?", questiona.
Na avaliação das Nações Unidas, os bancos de
desenvolvimento, criados especificamente para compensar em curto prazo os
fluxos de capitais privados e dos mercados, devem ser fortalecidos. “Nos
âmbitos internacional e regional, esses bancos lograram acumular habilidades e
conhecimentos extensos ao longo dos anos, mas seu alcance é restringido por sua
capacidade limitada de empréstimo”, acrescentando que essas instituições devem
ter como foco o apoio a pequenas e médias empresas e os setores da agricultura
e inovação.
Conforme o relatório, os fundos de riqueza
soberana, detentores de mais de US$ 7 trilhões na forma de ativos - dos quais
US$ 6 trilhões pertencem a países em desenvolvimento – têm privilegiado projetos
nos países desenvolvidos. “Enquanto mais da metade de todos os fundos
soberanos investem em infraestrutura (principalmente energia, transportes e
telecomunicações), o alvo está muitas vezes em países desenvolvidos, não em
países em desenvolvimento”.
Regulação financeira
A Unctad defende uma regulação financeira ousada e
um sistema monetário internacional estável e diversificado como forma de
controle mais efetivo das finanças globalizadas. Na avaliação dos líderes,
é preciso transformar regras financeiras e os acordos monetários existentes, em
vez de apenas introduzir ajustes modestos. Para Mukhisa Kituyi, "o
relatório destaca o impacto negativo sobre o investimento produtivo dos fluxos
de capitais de curto prazo e especulativos". Segundo ele, o documento
propõe “reformas e políticas que, no contexto da nova agenda de desenvolvimento,
poderão ajudar a mitigar as recessões e extinguir turbulências financeiras
locais antes que elas ameacem engolfar a economia global".
“Níveis de adequação de capital mais elevados e
novas medidas para os bancos sistemicamente importantes são iniciativas
bem-vindas, mas que ainda permitem uma alavancagem excessiva, ao mesmo tempo
que desestimulam os empréstimos para as pequenas e médias empresas”, ressalta a
publicação.
Segundo a Unctad, a ação mais ousada começa com uma
estrita separação entre banco comercial e de investimento, inclusive no âmbito
internacional, bem como o monitoramento e a regulação do sistema bancário
paralelo. Para Kituyi, “uma melhor opção para os países em desenvolvimento
talvez seja a de buscar de forma proativa uma série de iniciativas regionais e
inter-regionais com os objetivos de promover a estabilidade macroeconômica e
financeira regional, reduzindo a necessidade de acumulação de divisas, e fortalecendo
a capacidade para lidar com crises de balanço de pagamentos".
Edição: Carolina
Pimentel